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Belo Horizonte,30/04/2025

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Adri Fernandes

Moda é comunicação

Zuzu Angel, uma história inspiradora

Wikipédia
Moda é comunicação Zuzu Angel, 1972

Em meados de junho/2024, participei do casting para odesfile de aniversário da Revista e, procurando o local onde seria a seletiva,observei que ficava bem próximo à Rua Zuzu Angel, no Belvedere, aqui em Beagá.Que grata coincidência! Afinal, junho é o mês de aniversário de nascimento daZuzu, uma personagem da moda que admiro muito e faço questão de contar a vocês ahistória dela.

Zuzu Angel é o nome artístico da mineira Zuleika de SouzaNetto, nascida de família humilde, em Curvelo, em 1921. Ainda menina, quandonão estava ajudando a mãe com as costuras para fora, brincava de fazer roupascom retalhos, para as primas e suas bonecas. Aos 18 anos, foi morar sozinha noRio de Janeiro, onde conseguiu emprego em um ateliê de moda. Mas foi somentenos anos 1950, com pouco mais de 30 anos de idade, que conseguiu iniciar comoestilista.

Tendo morando em Salvador, antes do Rio, foi muitoinfluenciada pela cultura local e seu colorido. Seu estilo ficou marcado pelouso de temas do folclore, estampas com pássaros, borboletas, papagaios, uso defitas, chitas, seda e renda. Também trabalhava com conchas, bambu e madeira. Incrívelcomo Zuzu obteve sucesso levando para a alta moda, elementos ainda hojeconsiderados muito fora do padrão considerado elegante.

No final dos anos 50, a convite de uma tia, entrou para umgrupo formado pela então primeira-dama, dona Sarah Kubistchek, que costuravapara crianças carentes. Foi assim conheceu a esposa do presidente do Brasil,Juscelino, passando também a costurar para ela e as filhas. Seus desfilespassaram a ser frequentados pela alta sociedade brasileira e a irreverência desuas peças logo a conduziram ao sucesso.

Vinte anos mais tarde, na década de 1970, abriu sua loja emIpanema, com preços acessíveis e ampliando a clientela.

Foi pioneira na produção de sacolas e embalagenspersonalizadas e a primeira marca brasileira a ganhar notoriedade internacionalno pret a porter de luxo. Em vídeo no youtube, Astrid Fontenelle contaque a primeira coleção lançada pela brasileira nos Estados Unidos apresentoubaianas e cangaceiros em versão alta costura. Imagine o quanto deve tersurpreendido o público!

Em entrevista, Zuzu Angel apontava que moda não erafrivolidade e sim comunicação. Seu estilo era libertário, prático, funcional,absolutamente fora das convenções, com corpo à mostra e comprimentos curtospara as saias, coisa revolucionária para a época. Ela dizia que o caminho paraa libertação da mulher estava na negação da moda que a escraviza. Uau! Nósmodelos e manequins sabemos bem como é isso.

Antes de tanto sucesso e de ter em sua clientela a nata brasileirae divas de Hollywood, a mineira casou-se com o norte-americano Norman AngelsJones, em 1943, que conheceu em Belo Horizonte, e teve com ele dois filhos,Stuart Angel e Hildegard Angel.

Stuart tinha a alma libertária, como a mãe. Envolveu-se coma luta armada contra a ditadura e em 1971 foi preso e morto durante a torturana base aérea do Galeão, Rio, quando foi arrastado por um jipe, com a bocapresa ao cano de descarga. Sem saber da morte do filho, que era dado comodesaparecido pelo Exército, e julgando-o ainda preso, Zuzu usou de toda suainfluência com personalidades brasileiras, envolvendo até os Estados Unidos,país de origem do pai do rapaz, para tentar encontra-lo, sem sucesso. Somenteem 1972, ela descobre a morte do filho.

A partir daí, a estilista intensificou a luta que játravava contra a ditadura, em uma busca desesperada para reaver o corpo deStuart. Criou uma coleção estampada com manchas vermelhas, com motivos bélicose mostrando pássaros engaiolados. Tendo como logomarca um anjo, passou a usá-loferido e amordaçado em suas estampas. Utilizava tais temas nos desfiles dentroe fora do país como protesto e os grandes jornais estrangeiros a traziam comomanchete, enquanto suas roupas passavam a serem vendidas nas lojas de granderenome da 5th Avenue.

Zuzu chegou a tomar o microfone da mão de uma aeromoça,durante um voo, para alertar os passageiros que eles “desceriamno Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, Brasil, país ondese torturavam e matavam jovens estudantes”. E mesmo apelando a políticos eautoridades importantes, no Brasil e fora dele, e tendo obtido apoio do entãosenador norte-americano, Ted Kennedy, ela nunca encontrou o corpo de Stuart.

Em 1976, Zuzu Angel morreu em um suspeito acidenteautomobilístico, no Rio de Janeiro.

Vestidos de Zuzu Angel em exposição sobre a trajetória da estilista, em Brasília. Fonte: Wikipédia.

Homenageada em documentários, música, filmes, desfiles eescolas de samba, a estilista mineira deixou um legado de inovação e diversidadee tinha razão: moda é liberdade, é protesto, é comunicação!

Essa é história da incrível Zuzu Angel, considerada aprimeira estilista brasileira de moda.

Quer sugerir temas para esta coluna? Envie sua sugestão oucomentário para adrifernandesbh@gmail.com

 



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