Januaria Vargas

A incrível conexão entre o cérebro e o intestino

Por muito tempo, o intestino foi considerado um órgão que executa apenas funções de digestão de alimentos, absorção de nutrientes/água e excreção.
Mas, você sabia que esse extenso órgão tem relação direta com a nossa saúde mental e as emoções? Irei falar sobre esse fantástico universo que está aqui, dentro de cada um de nós, mas que quase ninguém se deu conta (até agora) do seu relevante papel para uma vida repleta de bem-estar e harmonia!
Intestino são, mente sã: desvendando o 2º cérebro
Podemos ter liberdade pra dizer que a paz interior começa no intestino, sabe por quê? Esse órgão, que mede entre 7 a 9 metros de comprimento, possui cerca de 200 a 600 milhões de neurônios e mais de 30 neurotransmissores. Ao contrário do nosso cérebro, o sistema nervoso entérico (como é conhecido esse conjunto de fibras nervosas que compõem o trato gastrointestinal) não pensa, mas tem a capacidade de sentir.
O intestino é um órgão sensorial, sendo sensível às emoções e ao estresse. Além disso, ele controla diversas funções para mediar o bem-estar do ser. Vale ressaltar que suas funções nervosas são realizadas de forma autônoma e não depende de comandos neurais superiores. Porém, o intestino envia diversas informações ao cérebro, por meio dos sistemas simpático e parassimpático, mesmo agindo de maneira independente ao órgão pensante.
Curiosamente, o sistema nervoso entérico e o sistema nervoso central têm a mesma origem embrionária, já que ambos surgem da crista neural. No entanto, o cérebro recebe influências do mundo exterior e leva informações a todo o organismo; enquanto o intestino trabalha mais internamente, influenciando os sentimentos de cada um.
Dr. Alberto Peribanez Gonzalez, autor do livro “Lugar de médico é na cozinha”, relembra em sua obra os dizeres populares “fulano vive enfezado”, “se borra de medo” e “enjoado”, associando esses três estados emocionais à condição do trato gastrointestinal. Uma pessoa que vive cheia de fezes, com constipação, alimenta sentimentos como a raiva e aborrecimento; a outra, com diarreia, apresenta sinais de angústia, medo e depressão; e a pessoa nauseada, que come além da conta, sente-se abarrotada, entediada e irritada com tudo ao seu redor.
Outra curiosidade do intestino é que ele produz 95% da serotonina e 50% da dopamina, além de diversos outros neurotransmissores que influenciam positivamente no sistema imunológico.
Serotonina e Dopamina: como eles influenciam seu bem-estar
A serotonina, conhecida como o hormônio da felicidade, regula o humor, o sono, a memória e o funcionamento intestinal, além de reduzir inflamações e auxiliar no tratamento de doenças. Ela é crucial para a estabilidade emocional, aumentando a sensação de alegria e motivação. Baixos níveis de serotonina podem levar a problemas como depressão.
A dopamina, outro neurotransmissor essencial, está envolvida no controle dos movimentos intestinais, memória, humor e sensação de prazer. Ela também ajuda a combater a ansiedade e a depressão. A falta de dopamina pode causar tremores e fadiga, enquanto o excesso pode estar relacionado à esquizofrenia.
A alimentação desempenha um papel importante na produção desses neurotransmissores. Alimentos ricos em triptofano, como bananas e chocolate amargo, favorecem a serotonina, enquanto alimentos ricos em tirosina, como lentilhas e carnes, ajudam na produção de dopamina.
Melhora do trânsito intestinal com as fibras
As fibras alimentares são fundamentais para a saúde intestinal e,consequentemente, para o bem-estar geral. Elas são carboidratos vegetais não digeríveis que ajudam no trânsito intestinal e têm benefícios adicionais para a saúde.
- Fibras Solúveis: Estas se dissolvem em água, formando um gel que aumenta a sensação de saciedade e ajuda a manter as fezes macias e hidratadas, facilitando a evacuação. As fibras solúveis também ajudam a reduzir os níveis de glicose e colesterol no sangue. Alimentos ricos em fibras solúveis incluem aveia, chia, linhaça, banana, maçã, morango, batata-doce, feijão, lentilha, couve-flor e cenoura.
- Fibras Insolúveis: Estas não se dissolvem em água e aceleram o trânsito intestinal, ajudando na eliminação de toxinas e na prevenção de problemas como prisão de ventre e hemorroidas. As fibras insolúveis estão presentes em alimentos como amendoim, azeitona verde, arroz integral, outros cereais, uva-passa, abacate, pera com casca, maçã com casca, pêssego e nozes.
Quando as bactérias intestinais são nossas amigas
Cerca de 90% das células do nosso corpo são bactérias no intestino grosso, formando a microbiota intestinal, com cerca de 2 a 3 kg de bactérias. Essas bactérias, essenciais para a saúde, participam na produção de vitaminas, antioxidantes, combate ao colesterol ruim e têm um papel imunitário crucial. Elas ajudam a proteger contra vírus, toxinas, parasitas e podem até prevenir câncer e controlar inflamações.
A microbiota intestinal se desenvolve desde o nascimento e é influenciada por fatores como tipo de parto, microbiota da mãe, higiene e nutrição. Entre 18 e 24 meses, a microbiota se estabiliza e permanece ao longo da vida, com entre 400 a 1000 espécies de bactérias, das quais 30 a 40 são predominantes. A dieta afeta a composição da microbiota, influenciando a saúde intestinal e imunológica.
Probióticos e Prebióticos
Probióticos são microrganismos vivos que melhoram a flora intestinal, enquanto prebióticos são fibras que alimentam essas bactérias benéficas.
Fontes de Probióticos: leite fermentado, iogurte, kefir, kombucha, tempeh e kimchi.
Fontes de Prebióticos: cebola, alho, banana, raiz de chicória, biomassa de banana verde, batata yacon, centeio, aveia, aspargos e mel.
Ambos oferecem benefícios como estimulação da imunidade, equilíbrio intestinal, alívio da prisão de ventre, aumento da absorção de minerais, produção de vitaminas, e redução do risco de câncer de cólon e outros problemas intestinais. Probióticos ajudam a combater bactérias prejudiciais, enquanto prebióticos aumentam a população de bactérias benéficas.
Cuide bem do seu intestino
Cuidar do intestino é cuidar de você de dentro pra fora. Além de uma escolha alimentar consciente, a saúde intestinal pode ser garantida através da adoção de hábitos simples que são capazes de contribuir para uma reforma íntima e intensa.
Pratique exercícios físicos: Eles tonificam a musculatura do trato gastrointestinal e estimulam os movimentos intestinais, ajudando na evacuação.
Movimente-se e sue: O suor elimina toxinas, melhora o metabolismo, a circulação e a cicatrização.
Beba água: A água é essencial para a lubrificação intestinal, prevenindo constipação e eliminando toxinas. Recomenda-se consumir de 2 a 3 litros por dia.
Mastigue devagar e com atenção: Mastigar bem ajuda na digestão e na comunicação entre o cérebro e o trato gastrointestinal, além de auxiliar no controle de peso.
Faça jejum: O jejum dá descanso ao sistema digestivo, melhora a sensibilidade à insulina e promove uma resposta anti-inflamatória no intestino.
Viu como essa conexão é importante?
A conexão entre o cérebro e o intestino é verdadeiramente surpreendente, mostrando que nossa saúde mental e emocional estão intimamente ligados. Cuidar do intestino não é apenas uma questão de bem-estar físico, mas também um fator essencial para promover uma saúde mental e emocional.
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