Joelisio Fraga

Consultório do Despreparo - Crônica
Médicos sem preparos

Consultório do Despreparo
Entrou no consultório vestindo o jaleco ainda com as marcas do ferro de passar.
Um Jovem, olhar seguro — talvez mais do que deveria —, e um estetoscópio pendurado no pescoço como quem carrega um troféu. Era o início de mais um plantão e, como em tantos outros, havia uma fila de dores esperando por atenção.
O primeiro paciente entrou. Uma senhora com a voz cansada, palavras entrecortadas e exames em mãos. Antes que ela terminasse de contar sua história, já recebia uma receita e um pedido de exames complementares. Não houve toque. Não houve escuta. Houve, talvez, protocolo.
Esse jovem médico, formado em um mundo de simuladores e tutoriais, carregava no peito o orgulho da formatura, mas não parecia ter passado pela aula mais importante: a da escuta.
É verdade que a medicina evoluiu, que os avanços tecnológicos permitem diagnósticos antes impensáveis. Mas há algo que não se ensina em sala de aula: a arte de ser presença. E essa, infelizmente, muitos novos médicos ainda não aprenderam.
Não é culpa apenas deles. O sistema forma técnicos apressados, não curadores de almas. Ensinam a identificar doenças, não a enxergar pessoas. A lidar com prontuários, não com histórias. E o resultado é esse: profissionais habilitados, mas emocionalmente inaptos.
Claro, há exceções. Jovens que chegam com brilho nos olhos e empatia nas mãos. Mas são poucos diante de um cenário que prioriza nota em vez de sensibilidade, currículo em vez de compaixão.
A medicina, dizem, é ciência e arte. Mas ultimamente, anda mais técnica do que poética. E talvez, no fundo, o que falte mesmo não seja conhecimento, mas coragem: coragem para olhar nos olhos do paciente e dizer “estou aqui”.
Enquanto isso, seguimos esperando no consultório da vida, torcendo para que algum desses novos médicos redescubra que curar, antes de tudo, é cuidar.
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